A humildade do chargista
Todos sabem da importância do elemento da zombaria e do escárnio no trabalho do chargista. Estes passam quase que por todos os trabalhos por nós apresentados, quando colocamos certas atitudes políticas e sociais em situações de ridículo – no melhor tom da palavra ridículo, que não deve ser vista aqui em tom pejorativo. Para Vladimir Propp – em Comicidade e Riso – todas as atitudes dos homens são passiveis do riso, exceto os elementos de sofrimento.
E justamente o que ocorreu com os trabalhos apresentados com a figura de Maomé publicados na Europa foi a zombaria de uma atitude política, social e cultural. Tudo dentro dos conformes do trabalho do chargista. No entanto, alcançamos a dor do homem, atingimos algo que é importante para a cultura mulçumana, que é a figura de Maomé. E por mais que vejamos um “alogismo” na ideologia mulçumana, devemos compreender o outro e aceitar que a figura do profeta é importante para a formação cultural, política e ética dos adeptos do islamismo.
Com isso não defendo que não devemos criticar as atitudes dos homens-bombas ou dos governos autoritários que governam países mulçumanos. Mas sim, que devemos tomar mais cuidado na hora de produzirmos nossos trabalhos. Afinal de contas, onde está o valor ético e moral de nossos desenhos. O chargista trabalha na fronteira entre o riso e a dor e deve tentar equilibrar estes dois lados do sentimento humano. O que não quer dizer que nunca erraremos, já que somos seres humanos. Porém devemos ter a humildade de sabermos quando atingimos de forma dolorosa a cultura e a forma de pensar de quem estamos “criticando”.
Para ilustrar melhor o que estou defendendo, poderíamos pensar em uma piada feita aqui no Brasil falando mal da raça negra. Logo esta seria criticada e chamada de racista e coisas do tipo – com toda a razão. Isto aconteceria, já que a escravidão e o preconceito são traços que permeiam nossa sociedade e que dói quando exposta em tom de “zombaria”. Acredito que não gostaríamos de ver tal piada. E é justamente o que vem ocorrendo com os mulçumanos, que se sentiram ofendidos com tais charges publicadas com a figura de Maomé.
Não estou com isso jogando “pedra no telhado” dos chargistas que fizeram tais desenhos, até porque como um chargista, ou seja, um desenhista com opinião, também já errei, como quando critiquei uma figura política quando esta acabara de morrer – algo de extremo mau gosto. O que argumento é que os chargistas, enquanto seres humanos que também erram, deveriam ter humildade profissional e admitir que erraram, pedindo desculpas para a comunidade mulçumana, tal coisa seria importante não só para o humor, enquanto fenômeno de comunicação, mas também para cessar com tais acontecimentos desastrosos que estão acontecendo no mundo. Aliás, coloco uma pergunta a ser refletida: queremos ser uma arma que luta contra a opressão em busca da paz ou queremos ser provocadores de conflitos e guerras?
Por Pedro Krause Ribeiro – 07/02/2006
www.geocities.com/pkrause8
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