domingo, junho 10, 2007

O Urubu é dele

Filho de Henfil reúne charges do pai com aquele que se tornou o principal símbolo do Flamengo em livro com orelha assinada por Zico
Zean Bravo - O Dia Online

Popeye desbancado por um urubu? Isso mesmo: ex-mascote do Flamengo, o marinheiro comedor de espinafre perdeu o posto para a ave no fim da década de 1960, quando o cartunista Henfil transformou a provocação da torcida do Botafogo no atual símbolo da torcida rubro-negra. Contadas através do traço, histórias como essa foram reunidas pelo filho do desenhista, Ivan Cosenza de Souza, no livro ‘Urubu’ (Editora Desiderata, 144 páginas, R$ 24,90), com orelha assinada por Zico, craque que ganhou um capítulo só para ele na publicação.
Dividido nos capítulos ‘Urubu’, ‘Futebol’ e ‘Rei Zico’, o livro traz série de desenhos dos anos 1960, 70 e 80. “A primeira charge veio depois que a torcida do Botafogo soltou um urubu de verdade, com a bandeira rubro-negra amarrada em cima dos flamenguistas no Maracanã. O que era pejorativo virou símbolo. O melhor para acabar com uma gozação é assumir o apelido”, acredita Ivan. “Até a morte do meu pai (em 1988, aos 43 anos, depois de receber uma transfusão de sangue contaminado com o vírus HIV) eu mesmo não sabia que tinha sido ele que batizou oficialmente o Fla de urubu”, admite.
Apesar de os tempos serem outros, o herdeiro de Henfil garante que boa parte das charges do livro continuam atuais. “Estão lá a violência no futebol, as implicâncias entre as torcidas e até o esvaziamento dos estádios”, enumera Ivan.
Ele optou por publicar as charges esportivas de uma segunda fase do trabalho do pai. “A primeira leva era publicada quase diariamente no ‘Jornal dos Sports’ e depois em O DIA. Os desenhos passavam mensagem e ele criou campanhas para o torcedor levar bandeiras do time para o estádio”, conta.
Além de urubu, Henfil (corruptela do nome Henrique de Souza Filho) criou os mascotes dos principais times cariocas: Bacalhau (Vasco), Pó-de-arroz (Fluminense), Cri-cri (Botafogo) e Gato Pingado (América) também ganharam a identificação de suas respectivas torcidas. “A rivalidade maior sempre foi entre urubu e bacalhau, que se uniam para gozar os outros times”, destaca Ivan.
Flamenguista doente, o ator Jorge Pontual não sabia que Henfil era o autor do urubu. “Passei a gostar ainda mais do trabalho dele. A geração que viu Zico jogar já cresceu acostumada a ser chamada de urubu. Não acho pejorativo”, defende o ator. “Para mim, o time sempre foi urubu desde que me entendo por gente. Mas já tive carteirinha do time com a figura do Popeye. Acho irado, até passei a gostar mais de urubu por isso. O Mengão poderia ser chamado de qualquer parada”, completa o ator Duda Nagle.
O ator Heitor Martinez destaca a graça da ave. “Urubu é maravilhoso, tem um vôo lindo, quase não bate a asa, fica planando. Eu me identifico”, assume Heitor. “O símbolo urubu é muito forte, motivo de orgulho”, resume o ator Jorge de Sá.

PODER NO TRAÇO

‘Urubu’, o livro, primeiro enumera as conquistas do Fla. Mas também relembra algumas derrotas e retrata ainda as participações dos jogadores que passaram pelo clube. O segundo capítulo fala do futebol como tema mais geral. A gozação entre torcidas, que por vezes descambavam para a violência, e a eterna insatisfação com a arbitragem foram reunidas nesta parte da publicação.
O filho de Henfil conta que o pai só deu um tempo na crônica esportiva depois de comprovar a influência que suas charges tinham sobre os torcedores. “A primeira fase das charges mostra o dia-a-dia dos anos 60 e 70, ficou mais datada. Ele fazia um desenho em 20 minutos, mas ficava horas e horas pensando como seria interpretado. Isso começou a ser uma tortura e ele temia ser responsável por alguma tragédia nos estádios”, diz.

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