quarta-feira, outubro 30, 2002

CONVERSA PARA BOI DORMIR

Eu tenho uma mania, um pouco mais cara, mas é uma coisa que me segue desde que eu me conheço por gente. Eu sempre gostei de relógios, os de pulso. Também gosto dos de parede, os cucos. Os que mais me fascinam são os de levar junto, os de colocar no pulso, aqueles mais finos, os mais fininhos possíveis, aqueles de ficar encostado, estalado, chapado no braço, aqueles que nem deixam ver a espessura, os de deixar a pulseira na mesma altura, coisa de 1 ou 1 ½ mm no máximo. Ao longo do tempo eu fui comprando, a cada oportunidade e quando a grana me permitia, comprava um, Piaget, Boume Mercier, Ademar Piguet, Raymond Weil, H Sauer, etc... Em uma certa ocasião comprei um Boume Mercier de uma amiga de minha cunhada, que era representante da marca aqui no Brasil. Um relógio muito bonito, elegante, aço e ouro, pulseira de aço e ouro também, mostrador sextavado, chapado, fininho, um relógio de deixar babando. Quando eu vi comprei, não foi nada barato, mas valia o meu tesão por ele e acabei comprando. Hoje com o dólar a R$4,00 daria para comprar um carro. Usei muito o relógio, fazia inveja, eu ficava de peito estufado, não pelos elogios ao relógio, mas por saber que o garotão aqui sabe o que é bom e sabia ter comprado uma coisa boa, merecida. Eu era e ainda sou um cara bonitão, bacana, com ou sem relógio. Mas com uma máquina daquelas no pulso eu arraso.
Um belo dia as baterias do relógio pifaram e tive que trocá-las. Deixei o relógio com minha cunhada para entregar à amiga dela de quem eu havia comprado. Como não foi logo que ela falou com a amiga, deixou o relógio guardado na gaveta das jóias dela e da minha sogra, para depois entregar à amiga. Uma gaveta fechada à chave, dentro de um guarda roupa também trancado, de difícil acesso, lá em cima nos quartos da casa dela. Só mesmo conhecendo para saber que ali estava uma gaveta com coisas de valor. Eu fiquei tranqüilo, conhecia o lugar e sabia que ninguém iria mexer ali. Junto na mesma gaveta, estavam as coisas que eram de minha sogra, as coisas das minhas cunhadas, algumas Libras Esterlinas de ouro, aquelas moedinhas pequenas e pesadas, gostosas de sentir na mão e muito mais gostosas de ter no bolso. Eu estou contando isso para dar a dimensão do que eu quero falar, se não mostrar o que havia na gaveta a coisa fica meio despercebida, meio sem sentido. Meus sogros já eram falecidos e na casa moravam só as minhas três cunhadas solteiras. Um sobrado muito bem localizado em uma rua sossegada, tranqüila e de pouco movimento, pertinho da Av Republica do Líbano. Aí o ladrão entrou, a casa foi assaltada quando não havia ninguém lá. Levaram meu relógio. Fui comunicado por telefone que haviam levado meu relógio. Nem boletim de ocorrência foi feito, não quiseram se expor, me pediram para deixar por isso mesmo...???? Só um detalhe que nunca eu entendi direito: porque só o meu relógio é que dançou, nada mais que existia na gaveta, ou na casa foi roubado....??? O ladrão devia ser vidente e mágico, foi direto na gaveta do quarto de cima, sem arrombar nada, sem mexer em nada mais na casa, sem estourar a gaveta, mesmo sem a chave abriu com cuidado para não estragar a madeira, e tirou somente o meu relógio, as outras coisas que estavam na gaveta ficaram. Alem de mágico o ladrão também devia ser diabético, coitado... Deve ter confundido as moedinhas de ouro com aquelas de chocolate.
É ou não é conversa para boi dormir???

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